RF* - Reprodução de Filmes -
SUPERAVENTURAS - Ediex - nº 30 - 1963 - Publicação de filmes em fotos preto-e-branco. Trata-se, neste valioso exemplar, da publicação no Brasil, pela Ediex (Editormex), de um dos mais cultuados westerns de todos os tempos: SHANE, de 1953, dirigido por George Stevens para a Paramount, baseado no livro de mesmo nome, de Jack Schaefer, publicado em 1949. O filme foi roteirizado por A. B. Guthrie Jr e Jack Sher.
No Brasil, o filme recebeu o título de "Os Brutos Também Amam" e mesmo tendo obtido um sucesso extraordinário, o título brasileiro sempre foi objeto de muitas críticas negativas. O próprio Paulo Perdigão (*), crítico e escritor brasileiro, apaixonado pelo filme, detestava o título, optando sempre por se referir apenas ao título original: Shane. De minha parte não tenho qualquer objeção ao título.
(*) Vejam e leiam:
- "Western Clássico - Gênese e Estrutura de Shane" - Editora Rocco Ltda, Brasil - autor: Paulo Perdigão
Breve abordagem sobre o título do filme no Brasil:
Considero essa discussão sobre o título brasileiro do filme, me desculpem, uma discussão estéril, inócua !!! Principalmente se considerarmos inúmeros outros casos análogos, e citando apenas dois outros grandes westerns:
- The Big Country (aqui: Da Terra Nascem os Homens), e
- Warlock (aqui: Minha Vontade é Lei) !!!
Aliás, há um outro caso talvez mais incisivo, um bom faroeste de Glenn Ford: The Violent Men (aqui: Um Pecado em Cada Alma) !!! Por que não colocar "Homens Violentos" ?!?
São títulos completamente dissociados do título em inglês. Na verdade, a escolha dos títulos de filmes no Brasil, na década de 1950, parecia, sem ofensa, "poetas batizando sonetos" !!! Mas no meu entendimento isto não tem importância !!!
Um outro filme de George Stevens (considerado western nos USA): "Giant", foi chamado aqui de "Assim Caminha a Humanidade". Creio que pior que isso, não há. Como "poesia" está ótimo, como fidelidade à obra original, zero !!!
E, na verdade, o título brasileiro "Os Brutos também Amam" não é tão ruim assim !!! Sempre leio comentários na linha de que o termo "brutos" não combina com o filme, porque ele teria "pouca violência". Sinceramente, me parece haver um evidente mas pouco percebido equívoco nisso tudo.
Apenas citando alguns detalhes (11) :
Mesmo não pretendendo assumir a defesa do título brasileiro, listo abaixo alguns itens que o justificariam, apenas para colaborar na avaliação:
- (1) Desde o início do filme, Shane demonstra estar integrado a um mundo de violência. Não se sabe de onde veio ou para onde vai e, por duas vezes, nas cenas iniciais, ameaça sacar seu revólver ao ouvir sons estranhos. - (2) Os capangas de Rufus Ryker, quando surgem pela primeira vez no rancho de Starrett, destroem o canteiro de verduras de Marian, numa evidente demonstração de violência. - (3) A simples presença de Shane ao lado de Starrett causa temor ao bando que prefere se retirar. Perceberam haver algum perigo! - (4) A briga entre Shane e Chris Calloway é uma das mais violentas dos westerns. - (5) Também, poucas vezes se viu uma briga tão violenta quanto à ocorrida no bar Grafton's, entre Shane, Starrett e todo o bando de Ryker. - (6) E não há violência no assassinato de Torrey por Wilson, num verdadeiro ritual de terror ? - (7) Os insanos capangas de Ryker estouram o gado nas terras dos colonos, sem se preocuparem com as consequências. - (8) A disputa entre Starrett e Shane para decidir quem vai ao encontro com Ryker e Wilson é de uma violência única (rolam inclusive entre as patas dos cavalos !!!) - (9) No confronto final, Shane mata três homens (Rufus e Morgan Ryker, e Wilson) !!! - (10) Finalmente, sem pretender ferir esses "críticos", eu diria que, por duas vezes no filme, até os cães pressentem a violência que está chegando !!! - (11) Por último: viver naquela época, naquela região, ou o indivíduo era um bruto ou morria !!! Creio estar claro que, na exata expressão da palavra, há "brutos" de sobra no filme !!!
Mas perguntariam: ... e eles amam? Me parece que sim! Basta observar o amor dedicado pelos colonos às famílias e à terra; o amor de Starrett pela esposa, e o que acontece entre Marian e Shane, que nunca é revelado! E Shane -praticamente em um ato de sacrifício - vai para o duelo final tentando preservar não só a vida de Marian, mas também a de Starrett e do pequeno Joey, além de proteger todos os colonos do vale !!!
Acabei por fazer, sem querer, a defesa do título !!!
O gibi aqui abordado - Superaventuras da Ediex - nº 30, foi publicado com o título de "O Homem dos Vales Perdidos", acompanhando o título do filme na França - L'Homme des Vallées Perdues - transformando-se, sem dúvida, em um dos melhores momentos dos gibis Ediex. Na França as publicações desses gibis Ediex foram feitas na série Star Ciné (Aventures! Vaillance, Bravoure, Roman, Cosmos, etc) e Far West Magazine, Cowboy Magazine, Photo Aventures, Jungle Film, e outras), utilizando-se papel de melhor qualidade e com impressão de melhor padrão que a edição brasileira. Este filme foi publicado no gibi Star Ciné Bravoure e, curiosamente, possuo um exemplar em que "alguém" fez uma adaptação na capa para Star Ciné Aventures!, não dá para entender o motivo. Vejam:
Sobre o fantástico elenco do filme, podemos destacar: Alan Ladd, reconhecidamente na melhor interpretação de sua carreira. Agigantou-se sob a mão segura de George Stevens e deu uma credibilidade enorme ao personagem. Um fato curioso, e que acredito, faça algum sentido, é que Alan Ladd, após o grande sucesso (inclusive de sua própria atuação) de Shane, não conseguiu interpretar outro papel de igual peso no cinema. Talvez aí esteja o mistério de seu estado depressivo nos anos seguintes, e a aproximação da bebida, tornando-se uma pessoa deprimida e amargurada, culminando com sua morte prematura em 1964, quando tinha apenas 50 anos de idade.
Ainda temos, Van Heflin, Jean Arthur, Jack Palance (imortalizado como o bandidão), Ben Johnson (grande Ben Johnson), Brandon deWilde (uma grata surpresa), Edgar Buchanan (o incansável Edgar Buchanan, presente em inúmeros westerns, e sempre competente), Douglas Spencer (discreto e competente), Emile Meyer (este, sem dúvida, no seu melhor desempenho no cinema, no papel do barão de gado: Rufus Ryker), John Dierkes e Elisha Cook Jr., entre outros.
Presto aqui uma homenagem à desaparecida atriz Janice Carroll (Susan Lewis), muito jovem e bonita, que pouco aparece no filme, em decorrência dos cortes que George Stevens teria realizado na sala de montagem. Consta que seu papel era bem mais expressivo e que, inclusive, na história, teria sido ela - Susan - a razão principal da transformação ocorrida com o personagem de Ben Johnson (Chris Calloway), inicialmente um fora-da-lei. Lamento muito que Janice não tenha tido o espaço que merecia no western. Pelo que observei no site IMDb, ela faleceu em 1993.
- Assim, publico aqui uma foto sua, praticamente "fabricada por mim" produzindo um "extrato" de um dos cartazes do filme, uma cena com Edgar Buchanan (no filme ele é Fred Lewis, seu pai). O cartaz (abaixo), a que me refiro, é bastante raro e a foto nem existe, a não ser o extrato que aqui publico:
Janice - imagem de meu acervo: https://70-anos-de-gibis.webnode.com /// Cartaz (Janice Carrol, Helen Brown, Edgar Buchanan) - www.listal.com
O grande filme, que muitos (aqui me incluo) consideram o maior dos faroestes, foi filmado em 1951, mas passou longo tempo na sala de montagem, por exigência do diretor George Stevens, tendo sido lançado apenas em 1953, e concorrido ao Oscar em 1954, vencendo merecidamente o de "fotografia a cores - de Loyal Griggs". Outro detalhe importante está em sua música-tema: The Call of The Faraway Hills, de Victor Young, uma das mais belas canções do cinema. Curioso não ter sido premiada com o Oscar, o mesmo aplicando-se ao filme e a Alan Ladd. Dizem que o motivo pelo qual ele não foi indicado como melhor ator foi porque estava se transferindo para outro estúdio (Warner) e a Paramount não quis apoiá-lo.
Eu assisti Shane, pela primeira vez, em 1959, em Botelhos-MG e, àquela época, com apenas 10 anos de idade, eu não o compreendi bem, por não conseguir conciliar as imagens e as legendas, mas me recordo muito bem do impacto que tive ao me deparar com aquelas cenas. Só fui constatar seu valor um pouco mais tarde, já em 1962, quando o vi novamente, lá em minha cidade do interior de MG - Muzambinho, no Cine São José, do nosso saudoso amigo Hugo Bengtson. Desde então, já o assisti mais de uma centena de vezes.
O gibi está completando 54 anos (2017) e o filme tem 64. A composição do gibi é muito boa, com fotos muito nítidas e descrição/diálogos de alto nível, aliás, considero este o gibi mais bem narrado da Ediex, com registros únicos, muito bem adequados ao desenrolar da história. Repetindo, foi um grande momento dos gibis da Ediex, sem dúvida.
Um fato curioso - de ordem pessoal - sobre o gibi, e que me traz grandes lembranças é que, quando ele foi lançado pela Ediex em 1963, eu e meus amigos tínhamos por volta de 14 anos de idade, e o filme Shane, que já tínhamos visto no cinema no ano anterior, era, para todos nós, o maior entre os maiores faroestes, ou seja, não havia outro igual. Ao me deparar com o gibi na banca (eu o comprei em Guaxupé - MG) tive um "disparo do coração", não acreditava no que via, isto porque, até o número anterior do gibi da Ediex - Superaventuras, não havia sido dado qualquer aviso sobre o filme que seria publicado em seguida. Foi um momento de muita emoção, uma das melhores surpresas que tive naqueles tempos. E me lembro bem de tudo isso, apesar de que já se vão 54 anos!!!
Neste site há inúmeras referências ao filme e aos gibis a ele relacionados, principalmente no módulo "Cartazes, Fotos e Informações ..." - item 1, onde apresento uma longa matéria sobre o filme, e em "Contribuições dos Internautas" - itens 5 e 18.
Há, também, em meu acervo, um outro gibi sobre este filme, mas não em fotos e sim quadrinizado - Clássicos do Faroeste - editado num evidente esforço de brasileiros (com magníficos desenhos de Flavio Colin), portanto, um "gibi genuinamente brasileiro", que está publicado neste módulo "Produtos - Acervo", além de uma de suas belíssimas páginas (vejam abaixo), também publicada no módulo "Momentos Mágicos dos Gibis" por sua beleza !!!
Leiam mais sobre a Ediex, no módulo "Curiosidades sobre Gibis" - itens 4, 23, 24, 28, 43 e 48, além dos comentários nos diversos gibis publicados neste módulo "Produtos - Acervo", e matérias contidas nos módulos "Cartazes, Fotos e Informações ..." e "Contribuições dos Internautas", neste site.
- Outras imagens do western:
- Abaixo, cena de Shane que ao longo do tempo se transformou em ícone: no final, quando se despede do pequeno Joey
- E o excelente ator Emile Meyer, no papel de Rufus Ryker, em monumental, gigantesco desempenho !!! (O Oscar jamais foi e jamais será justo !!!)
Shane/Joey - www.imdb.com
Rufus - www.pyxurz.com
- Abaixo, a mesma cena da capa do gibi da Ediex, mas com uma melhor definição
- E um momento de raro sossego no western: colonos cantando no aniversário de casamento de Joe Starrett e Marian (no centro, um pouco abaixo, a atriz Janice Carroll, muito jovem, em uma de suas raras cenas)
shane-marian-joe - www.allposters.com
colonos - www.gettyimages.com.br
- Bela página do raríssimo gibi "Clássicos do Faroeste", nº 01, de 1963, desenhado pelo grande Flavio Colin (gibi brasileiro já publicado neste módulo)
Pág de gibi de minha gibiteca: https://70-anos-de-gibis.webnode.page
- E um belo e antigo cartaz italiano de Shane (Il Cavaliere della Valle Solitaria):
Western que é um marco na história do cinema !!!
Gibi que é um marco na história da Ediex !!!
Matéria produzida em 2014, revista em 2016, 2017 e 2019.